terça-feira, 17 de julho de 2012

Enecom 2012: meu dia em um acampamento do MST

Visita ao acampamento 8 de Março do MST,
durante Núcleo de Vivência do Enecom 2012
*Relato de experiência e crônica de Sylara Silvério.


Eram quase 5 horas da tarde e o sol não estava mais tão forte. O campinho de futebol que arranjaram bem no centro daquele acampamento em forma de Mandala, estava repleto de crianças que brincavam.

O vai e vem atrás de uma bola fazia com que a poeira vinda de um barro avermelhado subisse e obtivesse formas de fumaça contra a luz daquele sol que já estava quase se pondo. E a poeira subia de tal maneira que quase não dava pra se ver os detalhes de cada uma daquelas crianças, via somente suas silhuetas. Vez ou outra a bola entrava na trave improvisada e a grande rede azul era balançada com a mesma intensidade que se comemorava o gol.


Enquanto isso os adultos usavam boné para se proteger do sol. Não somente como proteção, eles também usavam aquele acessório com o símbolo de um movimento que foi o motivo deles estarem reunidos ali. O que acontece é que eles não têm terra. Fala-se tanto sobre direitos e deveres e o que cada cidadão pode possuir, mas alguns não possuem nem o mínimo. E o mínimo que alguém deve ter é o direito de moradia. 

Se ocuparam num pedaço de chão que estava sem dono e agora um grande latifundiário vive de entrar na justiça para tirar aquelas inúmeras famílias dali. Até então, foram duas tentativas que falharam. Mesmo assim, aqueles quem não têm certeza de onde vão morar, colocam a cabeça no travesseiro toda noite e temem com um amanhã em que não seja mais possível acordar no seu humilde barraco. Principalmente Pétala.

Nome que remete a flor, realidade de cravo. Não menos feminina do que qualquer outra mulher, Pétala lidera as reuniões, assembleias e delibera todos os passos do acampamento. Se veste com bota de couro marrom, calça jeans, blusas com cores leves e amarra parcialmente seu cabelo longo e cacheado. Usa o chapéu vermelho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e o óculos escuros é para se proteger do sol e da poeira. Fogos de artifícios é o mecanismo utilizado para anunciar que a assembleia vai se iniciar. Depois de reunir todas aquelas pessoas debaixo da tenda, ela repassa os informes, aponta os lados negativos e comemora as vitórias conquistadas.

Em frente ao seu barraco, enquanto cede alguns copos de água para os visitantes, ela reclama do cansaço, do descaso de outros companheiros e da falta de oportunidade de intimidade com o esposo, mas não pensa em parar de lutar. Caminha todos os dias em volta dos barracos que são organizados por ruas. Ruas que têm nomes de mulheres que lutaram e fizeram história. E fala com orgulho dos espaços de discussões que são liderados pelas mulheres do seu acampamento.

8 de Março foi o dia que eles montaram suas barracas de lona naquelas terras e é também o nome que leva o acampamento que Pétala coordena. A data que eles vão conquistar sua luta, ninguém sabe ainda. Naquela tarde de domingo, na margem da capital do Brasil, uma companheira gritou: Eu sou brasileira e não desisto nunca. 

É assim que Pétala, os companheiros do Acampamento 8 de Março pensam e do MST pensam.

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